quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dino: Se PT rejeitar aliança com PCdoB no MA, se desmoraliza


Eliano Jorge

É contra si próprio que recai o risco de o PT desistir de apoiar o deputado Flávio Dino, do PCdoB, ao governo do Maranhão, na opinião do pré-candidato. Ratificada no congresso estadual petista por uma diferença de dois votos em relação à inédita união com a governadora peemedebista Roseana Sarney, a aliança com o PCdoB é questionada por dois recursos encaminhados à executiva nacional do partido.

"Os recursos são disparatados. Se a direção nacional acolher esses recursos ali, isso é uma desmoralização para a legalidade partidária", avalia Dino, seguro da firmeza dessa coligação. "Não vejo cenário da executiva nacional do PT acolher um recurso desse".

Tentando sua reeleição, Roseana ainda corteja a adesão petista, que era desejada pelos diretórios nacional e estadual do partido. O ex-ministro José Dirceu afirmou, em seu blog, que a falta de uma aliança com o PMDB maranhense contrariava resolução nacional da legenda.

"O debate nacional é artificial", intervém Flávio Dino, que rebate esta tese, lembrando a presença do PCdoB na base de apoio ao governo Lula. "Sou do único partido que fez seis alianças consecutivas com o PT: 89, 94, 98, 2002, 2006 e 2010. É a aliança mais duradoura da vida democrática brasileira, da vida republicana, aliás da história brasileira".

Confira a entrevista.

Terra Magazine - Está consolidado o apoio do PT à sua candidatura? É irreversível?
Flávio Dino - Eu não posso falar a palavra "irreversível", "irrevogável" etc. Sempre você tem que ter cautela, uma vez que o prazo legal é só de 10 a 30 de junho. Politicamente para nós, a candidatura está consolidada, existem três partidos que declararam apoio a ela: o PCdoB, o PT e o PSB. Este é o patamar de consolidação da candidatura. Estamos buscando ampliação, seja com outros partidos, seja com movimentos sociais. Este final de semana, começo a fazer viagens pelo interior do Estado, por sete cidades, discutindo programa de governo, estamos andando bem.

A governadora Roseana ainda estaria tentando atrair o PT e não teria desistido do apoio dele. O senhor tem esta informação?
Ela colocou no governo mais alguns secretários filiados do PT. Ontem, anteontem, o secretário de Educação, um professor chamado Anselmo Raposo, e o de Desenvolvimento Social, o sindicalista Edmilson Santos. Já tinha um secretário filiado ao PT, o do Trabalho.

Mas o PT não apoia o governo dela, não é isso?
Não, eles estão lá contra deliberação partidária. Essa decisão foi tomada há um ano e foi reiterada neste encontro que resolveu me apoiar. Não obstante isso, ela fez o convite a alguns filiados do PT e eles resolveram aceitar.

Ela tem oferecido mais vantagens ao PT?
Não sei realmente. Não tenho participado disso, tenho cuidado mais da pré-campanha. Para nós, isso é irrelevante, na verdade. Sinceramente, não estou muito preocupado com isso não.

Mas, na direção nacional do PT, não existem dois recursos contra a decisão do diretório estadual de se aliar à sua candidatura?
É, mas os recursos são disparatados. Se a direção nacional acolher esses recursos ali, isso é uma desmoralização para a legalidade partidária. O secretário nacional de organização do PT, o Paulo Frateschi, acompanhou o encontrou do começo ao fim.

O próprio presidente do PT nacional, José Eduardo Dutra, também estava lá, não?
É, e o próprio presidente esteve lá, numa parte, mas eu falo que o Frateschi ficou do começo ao último segundo, acompanhou tudo. Inclusive quando eu fui lá ser comunicado do resultado, ele declarou publicamente - está gravado, filmado - que o encontro havia transcorrido em absoluta normalidade e que o reasultado era aquele. Então, não temos preocupação efetiva com isso. Um dos recursos alega que o encontro é nulo porque eu estive presente na mesa de abertura. Eu nem discursei, estive apenas sentado à mesa, como convidado, representante de um partido, não me passaram a palavra. Só depois do resultado, no dia seguinte, à noite, me chamaram para me comunicar o resultado, aí eu discursei.

A governadora foi convidada também, não?
Eu não sei. Só sei que eu sou o presidente estadual do PCdoB, fui convidado como tal e estive presente à mesa de abertura como é normal que aconteça. Para tu ter uma ideia do quanto são disparatados os recursos.
O outro se refere a uma delegada (do PT) que não estava quite com suas contribuições financeiras e, segundo o estatuto partidário, não poderia votar. Essa delegada não foi admitida a votar porque estava devendo - se não me engano, R$ 10 mil, alguma coisa assim. Esse procedimento foi feito lá. Na hora, ninguém impugnou, nem ela própria. Ninguém discutiu.

Mas, se ela não votou no senhor, o que muda?
Não sei. É por isso que estou te dizendo que não vejo cenário da executiva nacional do PT acolher um recurso desse. Porque, se acolhesse, seria uma violência a todo o procedimento. Por isso, estou tranquilo, os recursos são disparatados, juridicamente, estatutariamente...
Acho que o quadro da aliança está consolidado. Tanto que a gente está estruturando coordenação de campanha e programa de governo - com discurssão nesta quinta-feira agora (15) -, começando uma agenda de viagens.

O ex-ministro José Dirceu afirmou que o PT maranhense contrariou resolução do congresso nacional do partido ao não se coligar com o PMDB. O senhor acha que essa fragmentação petista pode atrapalhar a campanha ou criar algum atrito?
Não, a minha expectativa é exatamente oposta, na medida em que o debate nacional é artificial. Porque eu sou integrante da base do governo Lula, sou do único partido que fez seis alianças consecutivas com o PT: 89, 94, 98, 2002, 2006 e 2010. É a aliança mais duradoura da vida democrática brasileira, da vida republicana, aliás da história brasileira. Não existe uma aliança partidária tão duradoura; nem a do PSD com o PTB, no período de 1946 a 1964, durou tanto tempo, até porque não houve seis eleições presidenciais consecutivas naquele período. Então, como é que pode se imaginar que essa aliança (PT/PCdoB) contraria a resolução nacional, a tática nacional? Pelo contrário, ela realiza os objetivos da tática nacional.

Além da sua pré-candidatura e a da governadora, já existe algum outro nome? O ex-governador Jackson Lago?
O ex-governador Jackson ainda não se manifestou. Há os comentários de que ele desejaria se colocar (candidato), mas que ainda não se declarou como tal. Ele está numa discussão com o PSDB acerca de aliança.

Ele seria o palanque do presidenciável José Serra no Maranhão, não?
É, imagino que ele esteja aguardando o término dessa negociação com o PSDB, que, ao que me consta, segundo notícias que tenho, está em curso, mas não sei em que fase se encontra, se vão fazer acordo.

Existe a possibilidade de uma aliança do ex-governador com sua candidatura?
O PDT é do campo Lula, né? Então, nessa medida, seria muito bem-vindo.

Houve alguma tentativa, alguma conversa, algum aceno?
Não, por enquanto não. Até em respeito ao Jackson. Ele tem, evidentemente, todo o direito de concorrer. Estamos aguardando o término dessa conversa do PDT com o PSDB. Na medida em que eventualmente ele tenha apoio, é lógico que se torna difícil a aliança.

Num eventual segundo turno contra a governadora Roseana, existe algum problema para a aliança entre o ex-governador e o senhor, com cada um apoiando um presidenciável?
Não, acho que segundo turno é sempre um cenário em que a força que eventualmente ficar fora deve se posicionar. No nosso caso, nós somos do campo Lula nacionalmente e do campo da mudança no Maranhão. Então, vamos buscar alianças que sejam coerentes com as duas coisas: o campo Lula e o campo da mudança no Estado.

Fonte: terra magazine